Artes saberes antropologias

O plural reiterado no título deste volume, Artes saberes antropologias, não é fortuito; estamos diante de uma obra plural do ponto de vista das temáticas, dos autores e das perspectivas. E é da convivência de heterogêneos que ela retira o seu interesse e força. Fruto da colaboração cotidiana de um coletivo que há dez anos se encontra para discutir e trabalhar, o livro mostra uma história de trocas intelectuais e afetivas que queremos, antes de mais nada, celebrar. Ele desenha assim as linhas de um projeto que se abrem em muitas direções, mas que nem por isso se afastam; ao contrário, há zonas de confluências e de afinidades que deixam ver o ritmo intenso dos diálogos e dos aprendizados recíprocos. As três partes que organizam o conjunto mostram algumas dessas convergências. Uma perspectiva etnográfica informa as onze análises reunidas neste volume. Elas se aproximam ainda em função de uma abordagem pragmática da vida social, que privilegia as formas e estilos das práticas, quer dizer, a poética social. Não por acaso, “fazer” é termo que atravessa o conjunto, de uma ponta a outra. Modos de fazer e conhecer - aprendidos, transmitidos, criados e recriados - não apenas se oferecem como temáticas, mas auxiliam a compor concepções, evidenciando processos e procedimentos sobre construções, técnicas e meios. Trata-se, portanto, de antropologias diversas, mas igualmente dedicadas a descrever e interpretar saberes-fazeres, que nos endereçam aos procedimentos da própria antropologia e ao lugar do antropólogo na produção daquilo que ele mesmo estuda. A memória, a história, as materialidades e a política, temas e problemas alinhavados no projeto (coletivo) desse coletivo, entrelaçam assim presente, passado e futuro neste volume plural, como dissemos; plural sobretudo em função do empenho em colocar em contato coisas distintas, do exercício de cruzar fronteiras e do compromisso em gerar diferenças.