Condutor de tochas

Este livro começou, lá pelos idos dos anos 2000, como algo cuja aspiração se limitava a apenas reunir, numa coletânea, uma série de poemas que iam ficando por aí, esparsos, como que esquecidos, em folhas soltas, ou páginas de cadernos, em fundos de baú, que a modernidade substituiu pelas memórias dos computadores. Todos compostos a partir do final dos anos 60, cada um sendo cada um. Assim pensei. Mas, no frigir dos ovos, esses poemas não eram tão assim, cada um sendo cada um. Eles tinham, entre si, uma suave unidade, um sedutor fio condutor, às vezes sutil, apaixonado, que os permeava. Entretanto, esse fio condutor, que os costurava uns com os outros, só apareceu mais tarde, quando ousei explicá-los em uma simples Nota do Autor. Aí, a coisa desandou. Mas, antes, uma confissão. Inocente, não atinei que esse sedutor fio condutor seria o sentido do mundo em que habitava. Os diversos estados de poesia, nos quais entrava, fizeram com que esse sentido viesse à tona. Pense o que se quiser pensar sobre o que seria esse tal de estado de poesia. Para outros, seria outra coisa, ou teria lá outro nome. O certo é que não dá para se fazer poesia sem que haja alguma percepção velada do mundo – velada para os outros –, uma percepção que repentinamente nos toma como se fosse uma epifania, uma espécie de visão sensível, que nos é impossível reter, e que quer sair de nós para as outras pessoas, vai se saber lá por que, quiçá por força de algum imperativo ancestral. E sai de nós, no caso, sob a forma de um poema. Não posso dizer se isso acontece somente com a poesia. Mas, isso pouco importa. (O autor)